Homenagem aos Mineiros
MINEIROS NÃO DIZEM EU TE AMO
Cristiane Mendonça
“Mineiros não dizem eu te amo; fazem café fresquinho e assam pão de queijo!
Para os nascidos nas ‘Terras Gerais’, palavras nem sempre expressam a verdade de um coração, mas quitanda e prosa boa são declarações de afeto genuíno.
E, enquanto a chuva cai sobre o mundo lá fora e as dores apertam o peito aqui dentro, na casa do mineiro a fumaça do bule baila feito criança no teto da cozinha. No forno, os pãezinhos assam, dourando sem pressa a casquinha que ficará crocante.
A avó busca o forro bordado à mão, guardado na velha caixa de madeira e o coloca sobre a mesa.
De repente, a xícara cor de âmbar é recheada até a beirada com o líquido preto.
Café bom é escuro e adoçado com disciplina!
Os pãezinhos de queijo, ainda quentes, são servidos no prato de ágata, ao lado do bolo de fubá, feito com generosidade.
O barro lá fora não incomoda, os pardais encharcados também não!
Na cozinha, entre cafés e quitandas, esticam-se as palavras no ritmo de um novelo de algodão na velha máquina de fiar, enquanto as mãos enrugadas passam e repassam os dedos sobre o forro, sentindo assim, as nervuras das linhas vermelhas dos bordados.
Chama-se a Deus para os males que parecem não ter remédio; faz cara de espanto para as modernidades, reclama-se dos mandruvás que comeram as folhas das hortas. Rememora-se os mortos com uma pontinha de tristeza e muita saudade!
Permanecem assim, dizendo eu te amo, silenciosamente.
Eu te amo no bolo feito com capricho, no queijo guardado para fazer o seu pão, no forro da mesa guardado para horas especiais e no café coado na hora para encher a casa com o perfume da gratidão.
Eu te amo no chá para gripe com folha de canela e açúcar, no uai dito para perguntas e respostas, no trem a que tudo se define… Nas palavras comidas pelas beiradas, mas sustentadas pelo olhar.
Mineiros não dizem eu te amo, porque amar é verbo de se benzer.”