FEIRA DO CANAÃ EM IPATINGA – NOSSO PATRIMÔNIO PÚBLICO CULTURAL AINDA NÃO DECLARADO

Por Alê Silva

Há mais de cinquenta anos a tradicionalíssima Feira do Canaã, funciona exatamente no mesmo lugar, ou seja, diante do número 331, da Av. Selim José de Sales, em Ipatinga. O seu horário de funcionamento é todos os domingos, das 6h até às 13h e sempre atrai um grande público de toda a região do Vale do Aço, girando em torno de cinco mil pessoas por dia de atividade.

Contando com duzentas e sessenta e seis barracas cadastradas, as atividades de vendas abertas ao público de hortifruti, artesanatos, confecções, utensílios domésticos, os saborosos pastéis feitos na hora, porções de linguiça e outros produtos da roça, além de garantir o sustento de no mínimo o mesmo número de famílias, também garante uma grande movimentação econômica e financeira na cidade.

Desde a sua instalação no local, que surgiu naturalmente, os feirantes nunca enfrentaram qualquer tipo de instabilidade relacional com os moradores das intermediações, pelo contrário. Todos os Ipatinguenses-nato reconhecem o valor da movimentação econômica, financeira e a empregabilidade que ela proporciona. Mesmo porque, a maioria dos Ipatinguenses, evidentemente, nasceram após o surgimento da feira, bem como, os moradores da localidade, passaram ali viver após a implantação das primeiras barracas.

Apesar da sua grande importância, por vezes há a ameaça, por parte da administração pública municipal em removê-la do lugar. Isso aconteceu em 2020, logo após a assunção da atual gestão ao poder municipal. Na época, a notificação de remoção foi assinada pelo secretário do SESUMA, com base num decreto de 1973 e entregue para o presidente da associação de feirantes. Desta notificação constava a ordem administrativa para que os feirantes, já no domingo seguinte (menos de uma semana), montassem as suas barracas na Av. Maanaim, mesmo que esse novo local não apresentasse, como até hoje não apresenta, qualquer estrutura capaz de absorver a demanda dos feirantes.

Alê Silva, que mantinha o seu gabinete regional como deputada federal no bairro Cariru, em Ipatinga e que se orgulha em dizer que a feira do Canaã foi o primeiro local público em que pediu votos na vida e que lá sempre foi e é muito bem tratada e respeitada, foi procurada por grupo  de feirantes que viam nesta notificação uma grande injustiça.

“Na época eu esclareci aos feirantes que eles poderiam até rasgar a notificação, porque ela não tinha a menor validade jurídica, notadamente pelo curtíssimo prazo concedido, bem como, por se basear num decreto municipal que não tinha sido recepcionado pela Constituição Federal de 1988. Que, em caso de recebimento de uma notificação judicial, aí sim, eu entraria em campo para fazer a defesa, considerando que eles já se encontravam estabelecidos no mesmo local, por várias décadas e quem eventualmente estivesse reclamando da presença deles, passou a ter interesse pelo local bem após a instalação da feira. Por outro lado, qualquer alteração de espaço, isso só poderia ser feito em comum acordo com todos os feirantes associados, ou pelo menos, sua maioria e, ainda assim, desde que o órgão público garantisse a todos, a estrutura necessária, principalmente para estacionar os caminhões, presença de pontos específicos para higiene e policiamento.”  Declarou Alê Silva, que também é advogada.

O Sr. Rony Lopes, um dos feirantes mais antigos e uma forte liderança do meio, expôs que: “Não é da vontade dos feirantes quanto uma eventual mudança da feira no bairro Canaã, ela está estabelecida neste mesmo lugar há uns cinquenta anos. O poder público local pode até nunca ter cedido a tão sonhada estrutura, o que iria garantir uma maior segurança e conforto, tanto para os feirantes quanto para os clientes que por ali circulam. Porém, dado ao hábito, não há razões para deixarem o espaço que ocupam. Por outro horizonte, o lugar que foi oferecido, lá na Av. Maanaim, há a presença de muitas pessoas em situação de rua, existe uma cracolândia nas mediações, o que causa uma insegurança geral, além do que, não teriam nem onde deixarem os caminhões. Nem mesmo os clientes da feira aprovariam essa mudança, dadas as dificuldades de logística para estacionarem os seus carros.”

Como os feirantes demonstraram resistência em acatar a notificação e a ignoraram, o Secretário da SESUMA, o prefeito e seu secretário de governo, desistiram da ideia. E, quando perceberam que a ex-deputada federal Alê Silva estava na briga, disposta a trabalhar como advogada de defesa dos feirantes, no domingo seguinte aquele em que deveria ter ocorrido a mudança, compareceram às barracas de pastéis para registrarem as suas presenças e afirmar em gestos, que não iriam mais mexer com eles.

Alê Silva é chamada de “Madrinha da Feira”, gosta de por lá caminhar, fazer compras e encontrar amigos.

“Sempre que a minha agenda permite, vou até lá. Gosto de fazer compras neste lugar, pois os produtos são de boa qualidade e bom preço. E, neste domingo de DIA DAS MÃES, pretendo mais uma vez estar junto dos meus amigos e fazer uma homenagem às mamães da feira. Mulheres guerreiras, arrimos de família, que fazem a nossa economia girar. Estaremos mais uma vez juntas nesta data tão especial.” Finaliza a nossa ex-deputada federal Alê Silva.

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